Notas

Irmãos Roca abrem Esperit Roca, o seu projecto mais ambicioso de sempre

A par da genialidade relacionada com a sua principal actividade, quer seja na cozinha (salgada e doce) quer seja nos vinhos, ou em termos de hospitalidade, um aspecto que sempre me fascinou no percurso dos irmãos Roca foi a sua ligação à terra. “Somos uns chicos de Girona”, descreveu uma vez Joan Roca, perante o incómodo dos flashes, na conferência de imprensa que se seguiu à conquista do título do Celler de Can Roca, como melhor restaurante do mundo, na lista do World 50 Best Restaurants de 2013, em Londres. Nunca a interpretei essa expressão como algo pequenino ou falsa modéstia – até porque tudo neles é grande: o pensamento, a criatividade, a seriedade, as conquistas – mas sim como vinda de alguém com uma conexão genuína à família e às origens. 

Talvez por isso, ao contrário alguns dos seus pares mais conhecidos, que expandiram os seus negócios por Espanha e mesmo por outros países, os principais projetos dos Roca estão todos em Girona, do tri-estrelado Celler Can Roca, às gelatarias Recambolesc, passando pelo espaço de eventos Mas Marroch ou pelo boutique hotel Casa Cacao. As raras excepções foram a expansão da gelataria a Barcelona (ainda assim, na região), Madrid e Houston (EUA) e a abertura de uma loja de chocolates da Casa Cacao num hotel em Riad, na Arábia Saudita – ambos conceitos mais fáceis de replicar. 

Desta forma, quando há dias, no X (ex-twitter) , Carlos Maribona, falava de um novo projecto dos irmãos, em Girona, não fiquei propriamente surpreendido. Só que este não era apenas mais uma abertura, mas sim, segundo o jornalista espanhol, que visitou o local a convite dos Roca e desenvolve a notícia no jornal ABC, “o projeto mais ambicioso de Joan, Josep e Jordi”. Localizado numa antiga fortaleza militar do século XIX, que nunca foi utilizada, em San Julián de Ramis, nas imediações de Girona, o Esperit Roca, assim se chama o espaço – com abertura prevista para o próximo dia 16 de Maio – inclui um novo restaurante, um hotel, uma enorme adega, uma exposição e uma destilaria. 

De uma forma global, o espaço foi desenvolvido como um centro gastronómico e cultural com diversos projetos. “O primeiro”, escreve Maribona”, “ a partir do dia 16, será um restaurante que em algumas semanas se unirá a um espaço que ocupará a Exposição CCR: Cozinha, Consciência, Reflexão”, inspirada numa mostra que já tinha sido apresentada antes em Barcelona e que incluirá agora, também, “um trajecto visual do que foi El Celler de Can Roca, ao longo dos seus 38 anos de história e de suas principais linhas criativas”.

A adega, que Maribona considera ser “um dos espaços mais espetaculares do novo projeto”, com a sua gigantesca sala circular e mais de 80.000 garrafas, está localizada sob a cúpula do castelo, à entrada do restaurante,  de forma a que os clientes tenham de passar por ela antes de chegarem à sala. Não sei bem o que significam oitenta mil garrafas num restaurante. Porém, ainda que não devam ser referências diferentes (seria impossível!), equivale ao que um produtor médio produz em Portugal.

A destilaria, que poderá ser visitada, é o local “onde são elaborados os destilados e licores locais que fazem parte da cozinha líquida de El Celler de Can Roca”. Maribona refere ainda que “o edifício é tão grande e alberga tantos espaços e recantos que haverá também espaço para uma grande biblioteca ou para a Roca Academia, que realiza diversas atividades formativas”. 

Já o restaurante, que “por enquanto” substituirá o que estava no espaço Mas Marroch (que voltará a dedicar-se exclusivamente a eventos), terá um menu com reinterpretações dos pratos icónicos do El Celler e dois outros menus, um mais focado nos pratos salgados (150€) e outro menor (110€) que dará maior destaque às sobremesas de Jordi Roca. 

O empenho dos irmãos Roca neste novo espaço parece de tal ordem que, adianta ainda Carlos Maribona, no futuro, não está descartada a hipótese de transferirem o El Celler de Can Roca para este novo espaço, algo que em nenhum momento anterior tinha sido considerado. 

Dá para perceber pela imagem de abertura a beleza do local escolhido. Ainda segundo Maribona, na mesma reportagem do ABC, a antiga fortaleza militar pertence a uma família de joalheiros, que ali instalou um museu de joalharia” Terão sido eles os responsáveis pela remodelação do lugar, “o que permitiu aos Roca aproveitar o espaço com um investimento mais acessível”.

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