As solicitações para ir a este ou aquele restaurante chegam diariamente e, na grande maioria das vezes, agradeço, mas declino o convite. Respeito o trabalho e o direito de existência de todos os profissionais e restaurantes que abrem, como é óbvio, mas não faz sentido ir a algo que à partida não vejo interesse, pessoal ou profissional. Às vezes, o conceito do restaurante ou a descrição do menu é suficiente (pokes, ceviches de salmão, risotto com óleo de trufa ou de vieiras congeladas interessa-me tanto como ver o Big Brother), outras vezes pode ser melhor mas se é mais do mesmo, obrigado, mas não. Porém, também acontece dar uma olhada no Google ou no Instagram e perceber que é capaz de haver ali algo interessante. Foi o que aconteceu quando me convidaram para conhecer o Libertà. “O quem? Mais um italiano mediano?” Ora bem, fui e valeu a pena. Temos um italiano que acrescenta algo à cidade. O que vou descrever abaixo são algumas impressões sobre o lugar – baseado, aliás, num post publicado ontem na minha conta do Instagram– e não propriamente uma critica, que é algo que não faço em restaurantes a que vou a convite.
O Libertà abriu há duas semanas, junto à Avenida da Liberdade, em Lisboa, e pertence a Alykhan Popat, um jovem empresário de 24 anos, filho de mãe portuguesa e pai queniano, cuja família é proprietária do hotel onde se insere, mas com entrada independente, para a rua. A comandar a cozinha está Sílvio Armanni, ex-chef executivo do Octavium, em Hong Kong, onde ganhou uma estrela Michelin, e que apresenta aqui uma carta sem pretensões a estrelas, mas com um conjunto de pratos bem elaborados e saborosos, fáceis de agradar, mas fora da banalidade habitual.
O tipo de proposta é de cozinha italiana clássica/tradicional com um toque actual e com um ou outro prato mais de autor. Há massas, quase todas frescas e feitas na casa, mas em vez de carbonaras e matricianas temos, por exemplo, um casoncelli alla bergamasca – uma massa recheada da zona de Bérgamo, de onde é originário o chef – um reconfortante cavatelli de peixe e marisco, ou um pappardelle de ragu de coelho.
Há ainda focaccias – recomendo a de mortadela, burrata e pesto de tomate seco – para entreter à entrada, “crudos” (o de ontem era um óptimo de lírio), e alguns pratos principais, uns mais de comfort food, outros mais ligeiros e elegantes. As sobremesas são apenas três, mas o tiramisu (finalizado na mesa) é de um equilíbrio de doçura que me agradou bastante, enquanto o cannolo siciliano, é mais para quem não é lá grande adepto de doces.
Lírio cru marinado, salada de funcho e laranja
focaccia com mortadela, burrata e pesto de tomate seco; e foccacia fina no forno com queijo stracchino
cavatelli (massa), camarões, mexilhões, peixe do dia e sapateira
Casoncelli alla Bergamasca (massa recheada), pancetta, salva, manteiga e parmesão
Duo di Manzo – lombo e rabo de boi dos Açores, ameixas assadas, acelga e polenta
Tiramisu “bomba”
Cannolo Siciliano com ricotta e chocolate
Quinta do Javali “Clos Bonifata”, um interessante branco de intervenção mínima do Douro.
Agradou-me muito, também, da postura em relação à selecção dos produtos/ingredientes que utilizam: importam o que é específico e não encontram com a mesma qualidade em Portugal (algumas massas secas, tomate seco, farinhas, mortadela, etc), mas adquirem cá a generalidade dos produtos frescos, nomeadamente carnes, horto-frutícolas, peixes e mariscos, privilegiando o produto sazonal – o discurso parece não ter nada de novo, mas se virmos bem, não é tão comum nos restaurantes italianos lusos.
Em termos de bebidas, existem vários cocktails (ente eles, vários negronis) e uma carta de vinhos ainda em construção, mas onde se encontra uma ou outra referência interessante e a preços que me pareceram sensatos. Aliás, como os do restaurante, em geral, que andará em termos de preço médio nos 35/40€ (dependendo do que se beber, claro).
Com uma outra rara excepção, a generalidade dos restaurantes italianos de Lisboa sempre navegou entre a mediocridade e a mediania, algo que nunca percebi, quando não é assim que acontece em outras cidades de relevo lá fora. Porém, de uma forma ténue, o panorama parece estar a mudar e ainda que o Libertà não seja o “top of the pops” da cozinha italiana, que os adeptos como eu gostariam que houvesse em Lisboa, é uma óptima opção dentro daquilo a que se propõe.
Contactos:Rua Rodrigues Sampaio, 39, Lisboa; Horário:3F a Sábado das 19h às 23h. Encerra domingos e segundas. Telefone: 21 354 1182
As solicitações para ir a este ou aquele restaurante chegam diariamente e, na grande maioria das vezes, agradeço, mas declino o convite. Respeito o trabalho e o direito de existência de todos os profissionais e restaurantes que abrem, como é óbvio, mas não faz sentido ir a algo que à partida não vejo interesse, pessoal ou profissional. Às vezes, o conceito do restaurante ou a descrição do menu é suficiente (pokes, ceviches de salmão, risotto com óleo de trufa ou de vieiras congeladas interessa-me tanto como ver o Big Brother), outras vezes pode ser melhor mas se é mais do mesmo, obrigado, mas não. Porém, também acontece dar uma olhada no Google ou no Instagram e perceber que é capaz de haver ali algo interessante. Foi o que aconteceu quando me convidaram para conhecer o Libertà. “O quem? Mais um italiano mediano?” Ora bem, fui e valeu a pena. Temos um italiano que acrescenta algo à cidade. O que vou descrever abaixo são algumas impressões sobre o lugar – baseado, aliás, num post publicado ontem na minha conta do Instagram – e não propriamente uma critica, que é algo que não faço em restaurantes a que vou a convite.
O Libertà abriu há duas semanas, junto à Avenida da Liberdade, em Lisboa, e pertence a Alykhan Popat, um jovem empresário de 24 anos, filho de mãe portuguesa e pai queniano, cuja família é proprietária do hotel onde se insere, mas com entrada independente, para a rua. A comandar a cozinha está Sílvio Armanni, ex-chef executivo do Octavium, em Hong Kong, onde ganhou uma estrela Michelin, e que apresenta aqui uma carta sem pretensões a estrelas, mas com um conjunto de pratos bem elaborados e saborosos, fáceis de agradar, mas fora da banalidade habitual.
O tipo de proposta é de cozinha italiana clássica/tradicional com um toque actual e com um ou outro prato mais de autor. Há massas, quase todas frescas e feitas na casa, mas em vez de carbonaras e matricianas temos, por exemplo, um casoncelli alla bergamasca – uma massa recheada da zona de Bérgamo, de onde é originário o chef – um reconfortante cavatelli de peixe e marisco, ou um pappardelle de ragu de coelho.
Há ainda focaccias – recomendo a de mortadela, burrata e pesto de tomate seco – para entreter à entrada, “crudos” (o de ontem era um óptimo de lírio), e alguns pratos principais, uns mais de comfort food, outros mais ligeiros e elegantes. As sobremesas são apenas três, mas o tiramisu (finalizado na mesa) é de um equilíbrio de doçura que me agradou bastante, enquanto o cannolo siciliano, é mais para quem não é lá grande adepto de doces.
Agradou-me muito, também, da postura em relação à selecção dos produtos/ingredientes que utilizam: importam o que é específico e não encontram com a mesma qualidade em Portugal (algumas massas secas, tomate seco, farinhas, mortadela, etc), mas adquirem cá a generalidade dos produtos frescos, nomeadamente carnes, horto-frutícolas, peixes e mariscos, privilegiando o produto sazonal – o discurso parece não ter nada de novo, mas se virmos bem, não é tão comum nos restaurantes italianos lusos.
Em termos de bebidas, existem vários cocktails (ente eles, vários negronis) e uma carta de vinhos ainda em construção, mas onde se encontra uma ou outra referência interessante e a preços que me pareceram sensatos. Aliás, como os do restaurante, em geral, que andará em termos de preço médio nos 35/40€ (dependendo do que se beber, claro).
Com uma outra rara excepção, a generalidade dos restaurantes italianos de Lisboa sempre navegou entre a mediocridade e a mediania, algo que nunca percebi, quando não é assim que acontece em outras cidades de relevo lá fora. Porém, de uma forma ténue, o panorama parece estar a mudar e ainda que o Libertà não seja o “top of the pops” da cozinha italiana, que os adeptos como eu gostariam que houvesse em Lisboa, é uma óptima opção dentro daquilo a que se propõe.
Contactos:Rua Rodrigues Sampaio, 39, Lisboa; Horário:3F a Sábado das 19h às 23h. Encerra domingos e segundas. Telefone: 21 354 1182
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