João Rodrigues acaba de ver o seu projecto Matéria ser reconhecido internacionalmente, ao vencer o prémio Game Changer, do La Liste, uma das principais premiações mundiais ligadas à restauração.
O La Liste, surgiu em 2015 como uma resposta francesa (com forte apoio do governo local) à lista do The World 50 Best Restaurants, cujo foco nunca esteve muito dirigido para a pátria do “fine dining”. Apresentada como uma listagem que resulta de um complexo algoritmo que leva em conta “mais de 600 guias e publicações confiáveis” (entre eles, o Guia Michelin, presume-se), a verdade é que o algoritmo continua a ter um perfume gaulês por demais evidente, como se comprova os factos de, este ano, voltar a ser liderado pelo restaurante parisiense Guy Savoy (o que acontece pela 5ª vez) e da grande maioria dos principais lugares serem de restaurantes franceses ou de cozinha de inspiração francesa.
Porém, o La Liste resolveu mudar algo nessa percepção e passar a dar maior destaque ao que se faz noutras latitudes e em outras áreas relacionadas com a gastronomia, criando uma série de prémios especiais paralelos à lista. É nesse seguimento que surge, entre outros, o prémio atribuído ao Projecto Matéria, o “Game Changer”.
Ontem, ainda em Paris, em declarações exclusivas ao Mesa Marcada, João Rodrigues referia como é que o projecto de apoio e divulgação de pequenos produtores portugueses surgiu no radar deste prémio internacional. “No início deste mês fiz uma apresentação do Matéria no congresso Gastromasa, em Instanbul. No final, a Helene Petrini veio ter comigo, disse-me que gostou muito da apresentação e que tinha achado o projecto muito interessante”. Passados uns dias, a nova responsável do La Liste (e ex-responsável pelo World 50 Best) ligou a João Rodrigues a dizer que estavam a pensar no Matéria para o prémio que tal como os outros especiais é um galardão que resulta de uma curadoria e não do tal algoritmo. “Foi espetacular”, resume Rodrigues, manifestamente contente. “Foi ainda melhor porque Portugal aparece sempre muito ligado a Espanha neste tipo de eventos e aqui foi um prémio dado directamente a um projecto que representa o nosso país”.
E como foi a gala em Paris?
“Acho que as pessoas acolheram muito bem, houve algum frisson, até pelo prémio que é, que tem a ver com inclusão, com trazer gente que não é falada para a ribalta, como é o caso dos produtores. Houve alguma emoção, o que é muito bom”. Rodrigues menciona ainda que o evento também especial para um cozinheiro como ele: “ver figuras pelas quais tens grande consideração que só conhecias da televisão ou dos livros, ali, ao teu lado, foi muito especial, também”.
Os restaurantes portugueses do La Liste
Ao contrário de outras listas, além de apresentar 1000 espaços, esta não surge como um ranking, embora os restaurantes apareçam em contagem decrescente de pontuação. Acontece que entre o 1º lugar e o 100º, por exemplo, as pontuações que resultam do algoritmo não são muito distantes: Guy Savoy, o 1º, teve 99.50 e o Alinea, nº 100 (ou o Noma, 101º) teve 95.50.
É provável que a não utilização de uma escala se deva ao facto de haver vários restaurantes com os mesmos pontos. Contudo, é sempre possível fazer uma contagem manual e ao fazê-lo verificamos que existem dois espaços portugueses nos 100 primeiros: o Vila Joya, em 59º e o Ocean em 63º com o 96.5 e 96 pontos, respectivamente.
Depois, mais para baixo, surgem o Il Gallo d’Oro (94 pts) e o Belcanto (93.5 pts) – à frente de restaurantes como o Gordon Ramsay, Eleven Madison Park, Mugaritz, Disfrutar, Per Se, ou Alchemist – um dos restaurantes mais falados dos últimos tempos.
Aparecem ainda na lista, Yeatman (91 pts), Fortaleza do Guincho, Feitoria (ambos com 86.50 pts), Casa de Chá da Boa Nova (88.5 pts) e, mais para o fim, o Alma com 80 pontos.
Em termos gerais os primeiros lugares são ocupados, como dizia no início, por restaurantes franceses ou de cozinha francesa: há 7 no top 10. Uma das excepções é Martin Berasategui, que se sai sempre muito bem em quase todas as premiações. No La Liste é 4º, com 99pts (os mesmos que o 2º), numa listagem onde os restaurantes espanhóis não se saem lá muito bem, ao contrário do World 50 Best, onde costumam ser mais dominantes. Por exemplo, o segundo melhor restaurante espanhol é o célebre Celler de Can Roca, mas não vai além da 39ª posição, com 97 pontos.
No seu site oficial, o La Liste explica sucintamente o seu método que apresenta como “transparente, íntegro e universal”. Porém, não nomeia quais são os mais de 600 guias ou publicações em que se baseia grande parte da sua pontuação. Também seria interessante que houvesse mais informação sobre os vencedores dos prémios especiais. Seja como for, para o Matéria e para os seus mentores, este um prémio é o reconhecimento de todo um esforço e cai como uma cereja no topo do bolo.
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João Rodrigues acaba de ver o seu projecto Matéria ser reconhecido internacionalmente, ao vencer o prémio Game Changer, do La Liste, uma das principais premiações mundiais ligadas à restauração.
O La Liste, surgiu em 2015 como uma resposta francesa (com forte apoio do governo local) à lista do The World 50 Best Restaurants, cujo foco nunca esteve muito dirigido para a pátria do “fine dining”. Apresentada como uma listagem que resulta de um complexo algoritmo que leva em conta “mais de 600 guias e publicações confiáveis” (entre eles, o Guia Michelin, presume-se), a verdade é que o algoritmo continua a ter um perfume gaulês por demais evidente, como se comprova os factos de, este ano, voltar a ser liderado pelo restaurante parisiense Guy Savoy (o que acontece pela 5ª vez) e da grande maioria dos principais lugares serem de restaurantes franceses ou de cozinha de inspiração francesa.
Porém, o La Liste resolveu mudar algo nessa percepção e passar a dar maior destaque ao que se faz noutras latitudes e em outras áreas relacionadas com a gastronomia, criando uma série de prémios especiais paralelos à lista. É nesse seguimento que surge, entre outros, o prémio atribuído ao Projecto Matéria, o “Game Changer”.
Ontem, ainda em Paris, em declarações exclusivas ao Mesa Marcada, João Rodrigues referia como é que o projecto de apoio e divulgação de pequenos produtores portugueses surgiu no radar deste prémio internacional. “No início deste mês fiz uma apresentação do Matéria no congresso Gastromasa, em Instanbul. No final, a Helene Petrini veio ter comigo, disse-me que gostou muito da apresentação e que tinha achado o projecto muito interessante”. Passados uns dias, a nova responsável do La Liste (e ex-responsável pelo World 50 Best) ligou a João Rodrigues a dizer que estavam a pensar no Matéria para o prémio que tal como os outros especiais é um galardão que resulta de uma curadoria e não do tal algoritmo. “Foi espetacular”, resume Rodrigues, manifestamente contente. “Foi ainda melhor porque Portugal aparece sempre muito ligado a Espanha neste tipo de eventos e aqui foi um prémio dado directamente a um projecto que representa o nosso país”.
E como foi a gala em Paris?
“Acho que as pessoas acolheram muito bem, houve algum frisson, até pelo prémio que é, que tem a ver com inclusão, com trazer gente que não é falada para a ribalta, como é o caso dos produtores. Houve alguma emoção, o que é muito bom”. Rodrigues menciona ainda que o evento também especial para um cozinheiro como ele: “ver figuras pelas quais tens grande consideração que só conhecias da televisão ou dos livros, ali, ao teu lado, foi muito especial, também”.
Os restaurantes portugueses do La Liste
Ao contrário de outras listas, além de apresentar 1000 espaços, esta não surge como um ranking, embora os restaurantes apareçam em contagem decrescente de pontuação. Acontece que entre o 1º lugar e o 100º, por exemplo, as pontuações que resultam do algoritmo não são muito distantes: Guy Savoy, o 1º, teve 99.50 e o Alinea, nº 100 (ou o Noma, 101º) teve 95.50.
É provável que a não utilização de uma escala se deva ao facto de haver vários restaurantes com os mesmos pontos. Contudo, é sempre possível fazer uma contagem manual e ao fazê-lo verificamos que existem dois espaços portugueses nos 100 primeiros: o Vila Joya, em 59º e o Ocean em 63º com o 96.5 e 96 pontos, respectivamente.
Depois, mais para baixo, surgem o Il Gallo d’Oro (94 pts) e o Belcanto (93.5 pts) – à frente de restaurantes como o Gordon Ramsay, Eleven Madison Park, Mugaritz, Disfrutar, Per Se, ou Alchemist – um dos restaurantes mais falados dos últimos tempos.
Aparecem ainda na lista, Yeatman (91 pts), Fortaleza do Guincho, Feitoria (ambos com 86.50 pts), Casa de Chá da Boa Nova (88.5 pts) e, mais para o fim, o Alma com 80 pontos.
Em termos gerais os primeiros lugares são ocupados, como dizia no início, por restaurantes franceses ou de cozinha francesa: há 7 no top 10. Uma das excepções é Martin Berasategui, que se sai sempre muito bem em quase todas as premiações. No La Liste é 4º, com 99pts (os mesmos que o 2º), numa listagem onde os restaurantes espanhóis não se saem lá muito bem, ao contrário do World 50 Best, onde costumam ser mais dominantes. Por exemplo, o segundo melhor restaurante espanhol é o célebre Celler de Can Roca, mas não vai além da 39ª posição, com 97 pontos.
No seu site oficial, o La Liste explica sucintamente o seu método que apresenta como “transparente, íntegro e universal”. Porém, não nomeia quais são os mais de 600 guias ou publicações em que se baseia grande parte da sua pontuação. Também seria interessante que houvesse mais informação sobre os vencedores dos prémios especiais. Seja como for, para o Matéria e para os seus mentores, este um prémio é o reconhecimento de todo um esforço e cai como uma cereja no topo do bolo.
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