Uma das boas experiências que tive no final deste Verão, já longínquo, foi um jantar para o qual fui convidado no A Ver Tavira. Já tinha ouvido falar bem deste restaurante situado mesmo no centro histórico da cidade algarvia e interessou-me especialmente o percurso do seu chefe, Luís Brito. Isto porque me habituei a considerar que o período de trabalho criativo dos chefes de cozinha se situa entre os trinta e poucos anos e os cinquentas e poucos. Ora o alentejano Luís Brito, natural de Almôdovar, ali na “fronteira” com o Algarve, depois de ter estudado na Escola de Hotelaria de Faro, concluindo o curso em 1989, andou pelas cozinhas de vários hotéis algarvios e também por Angola, foi formador precisamente na Escola de Hotelaria de Faro e também na Escola de Hotelaria de São Paulo, no Brasil, ao longo de trinta anos de carreira. Ou seja, não seria de prever que, já nos cinquentas, iniciasse uma nova etapa na sua vida profissional, tomando conta, há cerca de cinco anos, do A Ver Tavira, restaurante aberto em 2006.
Luís Brito
Fui encontrar neste restaurante, que justifica o nome por se encontrar num ponto alto, com boas vistas sobre Tavira – que se podem usufruir plenamente das mesas de um extenso e confortável terraço, onde jantei -, uma cozinha muito bem feita, sólida, com sabores bem definidos e criatividade suficiente para justificar uma estrela Michelin. Por enquanto, é o único restaurante de Tavira a merecer menção no guia vermelho, que lhe concedeu um “prato”, símbolo entretanto extinto pela Michelin, mas que distinguia a qualidade da cozinha. Não me espantaria que essa estrela fosse anunciada na próxima Gala Michelin Espanha e Portugal, em Valencia, marcada para a próxima terça-feira, onde decidi desta vez não comparecer devido à pandemia. No entanto, o Mesa Marcada lá estará, através da presença do destemido Miguel Pires, sempre ao serviço dos leitores.
Peixe de linha com arroz de Alcácer
Já agora (e, por favor, não considerem esta curta enunciação uma “previsão”), outros restaurantes portugueses onde estive nos últimos tempos e que me parecem merecedores de estrela são o Cura, de Pedro Pena Bastos, em Lisboa, já favorito no ano passado, o reformulado Ó Balcão, de Rodrigo Castelo, em Santarém, embora talvez a mudança seja recente demais para os inspectores, e o JNcQUOI Avenida, de António Bóia, em Lisboa, mas creio que este último, por motivos que não compreendo, seja por enquanto uma aposta perdida. Logo se verá o que acontece em Valencia, mas acredito que para estes restaurantes, se conseguirem manter a qualidade actual, a estrela é uma questão de tempo.
Carabineiro com alho negro, lombo de boi marinado, caril e caviar
Voltando ao jantar no A Ver Tavira, lembro-me da qualidade e do pormenor com que todos os produtos estavam tratados, especialmente os peixes e mariscos, em ponto esplêndido, assim como as boas combinações entre ingredientes, caso, por exemplo, do carabineiro, cebola, lombo de boi marinado, caril e caviar, da cavala fumada, com alho negro e caviar, do “Se Eu Fosse uma Cataplana”, com salmonete, mexilhão, camarão de Monte Gordo e amêijoas, do peixe de linha (nessa noite afortunada, calhou na estupenda anchova do Algarve, creio que o único local da costa portuguesa continental – acho que também nos Açores – onde elas atingem certos tamanhos) com arroz de Alcácer, molho de assado e kaffir, ou das carnes do sabores de um cozido português, concentrados numa presa de porco ou ainda do black angus com puré de aipo, cogumelo e jus(na fotografia de abertura). Um menu que custa 125 euros e ainda inclui aperitivos e duas sobremesas. Há um outro menu mais curto, que fica por 70 euros. O meu único “reparo” é a quantidade excessiva de cada dose, mas creio que a maioria das pessoas raramente se queixa nesta matéria.
Ainda bem que Luís Brito decidiu não “pendurar as chuteiras” (como dizem os brasileiros dos futebolistas quando terminam a carreira…) e arriscou neste restaurante aonde se deve ir e voltar. Oxalá a Michelin lhe faça justiça.
O terraço oferece vistas desafogadas sobre a cidade
AVer Tavira
Morada: Largo Abu-Otmane, Calçada da Galeria, 13, Tavira
Tel: 281 381 363
Horário: de terça a sábado – 10h-23h, domingo – 10h – 15h. Menu ligeiro de almoço: das 12h às 18h. Menus de Degustação e Carta: a partir das 18h30h. Fecha à segunda-feira
Uma das boas experiências que tive no final deste Verão, já longínquo, foi um jantar para o qual fui convidado no A Ver Tavira. Já tinha ouvido falar bem deste restaurante situado mesmo no centro histórico da cidade algarvia e interessou-me especialmente o percurso do seu chefe, Luís Brito. Isto porque me habituei a considerar que o período de trabalho criativo dos chefes de cozinha se situa entre os trinta e poucos anos e os cinquentas e poucos. Ora o alentejano Luís Brito, natural de Almôdovar, ali na “fronteira” com o Algarve, depois de ter estudado na Escola de Hotelaria de Faro, concluindo o curso em 1989, andou pelas cozinhas de vários hotéis algarvios e também por Angola, foi formador precisamente na Escola de Hotelaria de Faro e também na Escola de Hotelaria de São Paulo, no Brasil, ao longo de trinta anos de carreira. Ou seja, não seria de prever que, já nos cinquentas, iniciasse uma nova etapa na sua vida profissional, tomando conta, há cerca de cinco anos, do A Ver Tavira, restaurante aberto em 2006.
Fui encontrar neste restaurante, que justifica o nome por se encontrar num ponto alto, com boas vistas sobre Tavira – que se podem usufruir plenamente das mesas de um extenso e confortável terraço, onde jantei -, uma cozinha muito bem feita, sólida, com sabores bem definidos e criatividade suficiente para justificar uma estrela Michelin. Por enquanto, é o único restaurante de Tavira a merecer menção no guia vermelho, que lhe concedeu um “prato”, símbolo entretanto extinto pela Michelin, mas que distinguia a qualidade da cozinha. Não me espantaria que essa estrela fosse anunciada na próxima Gala Michelin Espanha e Portugal, em Valencia, marcada para a próxima terça-feira, onde decidi desta vez não comparecer devido à pandemia. No entanto, o Mesa Marcada lá estará, através da presença do destemido Miguel Pires, sempre ao serviço dos leitores.
Já agora (e, por favor, não considerem esta curta enunciação uma “previsão”), outros restaurantes portugueses onde estive nos últimos tempos e que me parecem merecedores de estrela são o Cura, de Pedro Pena Bastos, em Lisboa, já favorito no ano passado, o reformulado Ó Balcão, de Rodrigo Castelo, em Santarém, embora talvez a mudança seja recente demais para os inspectores, e o JNcQUOI Avenida, de António Bóia, em Lisboa, mas creio que este último, por motivos que não compreendo, seja por enquanto uma aposta perdida. Logo se verá o que acontece em Valencia, mas acredito que para estes restaurantes, se conseguirem manter a qualidade actual, a estrela é uma questão de tempo.
Voltando ao jantar no A Ver Tavira, lembro-me da qualidade e do pormenor com que todos os produtos estavam tratados, especialmente os peixes e mariscos, em ponto esplêndido, assim como as boas combinações entre ingredientes, caso, por exemplo, do carabineiro, cebola, lombo de boi marinado, caril e caviar, da cavala fumada, com alho negro e caviar, do “Se Eu Fosse uma Cataplana”, com salmonete, mexilhão, camarão de Monte Gordo e amêijoas, do peixe de linha (nessa noite afortunada, calhou na estupenda anchova do Algarve, creio que o único local da costa portuguesa continental – acho que também nos Açores – onde elas atingem certos tamanhos) com arroz de Alcácer, molho de assado e kaffir, ou das carnes do sabores de um cozido português, concentrados numa presa de porco ou ainda do black angus com puré de aipo, cogumelo e jus (na fotografia de abertura). Um menu que custa 125 euros e ainda inclui aperitivos e duas sobremesas. Há um outro menu mais curto, que fica por 70 euros. O meu único “reparo” é a quantidade excessiva de cada dose, mas creio que a maioria das pessoas raramente se queixa nesta matéria.
Ainda bem que Luís Brito decidiu não “pendurar as chuteiras” (como dizem os brasileiros dos futebolistas quando terminam a carreira…) e arriscou neste restaurante aonde se deve ir e voltar. Oxalá a Michelin lhe faça justiça.
A Ver Tavira
Morada: Largo Abu-Otmane, Calçada da Galeria, 13, Tavira
Tel: 281 381 363
Horário: de terça a sábado – 10h-23h, domingo – 10h – 15h. Menu ligeiro de almoço: das 12h às 18h. Menus de Degustação e Carta: a partir das 18h30h. Fecha à segunda-feira
Fotografias: Jorge Carmo
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