Têm-me perguntado, com regularidade, quais as minhas expectativas para o Guia Michelin Espanha e Portugal 2021, cuja cerimónia (virtual) se realiza amanhã, às19h, a partir de Madrid.
Na verdade, de uma forma mais generalizada, as primeiras questões foram colocadas em Março quando vários países começaram a confinar e o sector da hotelaria e restauração teve de fechar. As publicações seriam lançadas? Os inspectores iriam poder avaliar? E os restaurantes, estariam à altura das exigências?
Passadas umas semanas, em Maio, num comunicado de imprensa de “apoio ao sector gastronómico” – que passou praticamente despercebido na imprensa – o director dos Guias Michelin Gwendal Poullennec, respondia a estas questões colocando alguma água na fervura em relação aos receios do sector, dando a entender que iriam aplicar os critérios habituais, mas que seriam mais flexíveis enquanto a pandemia durasse.
“A seleção internacional do Guia MICHELIN compreende 32 países, e, através dos nossos inspetores locais, avaliamos a diversidade e a dimensão da crise que estamos a atravessar. Em cada país afetado pela pandemia, as nossas equipas estão totalmente comprometidas para manter a comunicação essencial com o sector. Graças às nossas equipas, em cada região, estaremos na disposição de tomar as decisões apropriadas de acordo com o ambiente local, à medida que a recuperação vá tomando forma.
Porém, o que hoje gostaria de transmitir é que, onde quer que estejam, e independentemente do tipo de restaurante, trabalharemos em conjunto com as nossas equipas locais de inspetores de modo a que possamos assegurar-nos de que a situação regressa à normalidade da forma mais rápida e segura possível. Sabemos que o caminho de regresso à recuperação será gradual. Mas, por favor, podem estar seguros de que estaremos aqui para ajudar-vos a avançar a cada passo.
A razão de ser do Guia Michelin é recomendar restaurantes, não somos críticos. Sempre quisemos encontrar restaurantes que sirvam boa comida, descobrir novos talentos e aproximar estes restaurantes dos comensais que desfrutam da gastronomia. É o que sempre temos feito, e o que continuaremos a fazer, tendo em conta a excecional situação que atravessamos: durante o tempo que dure a recuperação, seremos flexíveis, sensatos, respeitadores e realistas; estaremos aqui para apoiar-vos, promover-nos, dar-vos a conhecer e motivar-vos.”
Entretanto, já saíram vários guias por ess mundo fora e, de facto, a distribuição de novas estrelas parece estar a ser mais comedida, embora em alguns casos – provavelmente naqueles em que boa parte das apreciações decorreram antes da pandemia – os resultados até superaram um pouco as expectativas.
Na previsão que fez no ano passado, aqui no Mesa Marcada, Duarte Calvão, referia as fracas expectativas para estrelas Michelin Portugal 2020 e apontava, com alguma certeza, dois novos uma estrela, um novo duas estrelas, algumas outras possibilidades e a perda de estrela de dois restaurantes. A revelação viria a confirmar as suas perspetivas: uma estrela para o Vistas, de Rui Silveste e Fifty Seconds e duas para a Casa de Chá da Boa Nova de Rui Paula, bem como a perda da estrela dos restaurantes L’And Vineyards e Henrique Leis (que as tinha “entregado” uns meses antes). A estas houve a confirmação de uma estrela para o Mesa de Lemos e outra para o Epur, de Vincent Farges.
E 2021?
Bom, para a edição de 2021, que vai ser revelado esta segunda-feira, podia dar o mesmo título do ano passado mas creio que a expectativa é bem pior – e creio que é esse o sentimento geral das pessoas do meio, directa ou indirectamenente implicadas. Sem acesso a qualquer informação privilegiada, nem oficial, nem oficiosa, menciono os rumores que apontam para a segunda estrela para o restaurante lisboeta de Filipe Carvalho e Martim Berasategui e a injustiça, que já começa a ser habitual, da não subida a esse patamar do Feitoria, de João Rodrigues. Porém, fala-se de uma surpresa que encaixa no perfil conservador e francófono do guia, que seria a atribuição de uma estrela ao Le Monument, o restaurante de fine dining do hotel Le Monument Palace, no Porto, que tem à frente o ex-estrelado (em Paris) Julien Montbabut.
E o Paparico, o Euskalduna, o 100 Maneiras, a descentralização dos últimos anos (Ferrugem?), finalmente um três estrelas, ou a guinada para o informal (como acontece em vários países/cidades lá fora) que incluísse o Prado, o Essencial, ou o Arkhe? Hum… não acredito, mas espero estar redondamente enganado. Valha-nos, como bónus de terminação, o facto de também não ser provável que haja perda de estrelas.
De resto, embora o guia tenha vindo a fazer um esforço para estar mais actualizado em termos bib gourmand e restaurantes não estrelados, bem como em termos de lugares com uma pegada mais sustentável (com a atribuição de estrelas verdes), não estou em crer que, em Portugal, tenham melhorado nesse sentido. Portanto, espero novamente um guia com muito pouca utilidade, para lá das estrelas. Contudo, também aqui, espero estar redondamente equivocado. Vamos ver.
Nota: alterado às 02.12h de 14/12 para a incluir o Euskalduna
Miguel, no Porto o IN DIFERENTE é Bib Gourmand.
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