Restaurantes

Carlos Afonso sai do Frade e abre Oitto no Chiado

Depois de várias tentativas, o nome surgiu naturalmente por o restaurante estar situado no número 8 do Largo do Picadeiro, em pleno Chiado, ladeado pelos teatros de São Carlos e de São Luís, onde estava antes o Meat Me, restaurante especializado em carnes que fechou durante a pandemia. Foi uma “oportunidade”, segundo Carlos Afonso, que, aos 35 anos de idade, andava à procura de um espaço para dar continuidade à sua carreira, já que o restaurante que lhe deu nome, O Frade, em Belém, não dispõe de instalações suficientemente amplas – a cozinha tem 9 m2 – para o que agora lhe interessa desenvolver. Mas não se preocupem os muitos apreciadores deste pequeno restaurante com apenas um balcão em “U”, vencedor do prémio Mesa Diária 2019 (Prémios Mesa Marcada) e ganhador de um Bib Gourmand, distinção com que o Guia Michelin assinala os restaurantes com melhor relação qualidade/preço, porque Carlos Afonso afirma que continuará com as mesmas características, liderado pelo seu primo Sérgio Frade: “Foi uma separação natural, sem quaisquer ressentimentos, onde considerámos que era melhor cada um seguir o seu caminho. Aliás, eles sabem que se algum dia precisarem de mim estou sempre pronto para ir dar uma ajuda. É família”.

Foi precisamente num almoço no Frade que o casal Renato e Denise Santos (ela, brasileira, já com experiência em restauração no seu país) decidiu desafiar Carlos Afonso para este projecto, embora na altura ainda não tivessem local definido. “Eu estava a pensar em abrir um espaço com uma cozinha mais elaborada no piso superior ao Frade, mas não conseguimos licenciamento, ou então abrir outros restaurantes como o Frade noutros pontos de Lisboa, mas isso também não se revelou possível. Por isso, conversei com eles e partimos para este projecto”, explica.

Simulação de como ficará a fachada do Oitto, que vai dispor de esplanada

No Oitto (o duplo T quer dar a ideia de uma mesa), Carlos Afonso não se poderá queixar da falta de espaço. Além de uma ampla cozinha, que se estende por uma zona “aberta” ao fundo da sala principal, dispõe de muito espaço para armazenamento na cave, instalações para o pessoal, escritórios e até de uma zona para descargas directas de produto, algo que poderá ser fundamental para as características da casa. “Pretendo comprar directamente no MARL e noutros locais tudo o que conseguir e depois tratar aqui dos produtos, controlando melhor a qualidade e reduzindo margens de intermediação, o que poderá possibilitar preços mais acessíveis, que deverão rondar em média uns 35 euros por pessoa”, afirma. O estilo culinário mantem-se o mesmo que lhe deu nome n’O Frade, baseado numa cozinha portuguesa de matriz regional com um toque de contemporaneidade, e a proposta não inclui menus de degustação, mas sim pratos individuais, vários deles para partilhar.

Com as obras a decorrerem a bom ritmo, o Oitto tem abertura prevista para o fim deste mês de Junho. Além da sala principal, com capacidade para cerca de 50 lugares, tem ainda um mezanino com um balcão para 12 pessoas, uma sala para grupos para outras 12 e uma esplanada que, no máximo, poderá sentar umas 40 pessoas. Vai abrir para almoço e jantar, mas durante a tarde a esplanada ficará aberta, servindo bebidas e alguns pratos mais simples. Natural de Beja, com curso tirado na Escola de Hotelaria de Portalegre, Carlos Afonso, além da abertura de O Frade, já tem no currículo passagens por restaurantes como Bica do Sapato, então chefiada por Alexandre Silva, Bonsai, na altura de Ricardo Komori, Pure C, nos Países Baixos (Sergio Herman), Azurmendi, no País Basco (Eneko Atxa) e Ocean (Hans Neuner) e não esconde o entusiasmo por esta nova etapa na sua carreira: “Julgo que esta oportunidade surgiu na altura certa e no local certo. Quem gosta do que se faz no Frade certamente gostará do que aqui iremos apresentar”, conclui.

Fotografia de abertura: Cristina Gomes

Nasceu em Lisboa em 1963. Licenciou-se em Comunicação Social pela Universidade Nova de Lisboa e trabalhou em diversos jornais (Semanário, Diário Popular e Diário de Lisboa) e, depois, na área de comunicação empresarial. Em 1997, começou a colaborar com a revista “Fortuna” na área de gastronomia e vinhos. Em 1999, criou a página “Boa Vida” para o “Diário de Notícias”, que coordenou até Janeiro de 2009, com algumas interrupções. Entre 2007 e 2019, foi coordenador do Projecto Gastronomia da Associação de Turismo de Lisboa e, nesse âmbito, director do festival gastronómico Peixe em Lisboa, continuando a escrever artigos sobre gastronomia e restaurantes em várias publicações.

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