“Ana Magalhães, chefe de partida no Six Senses Douro Valley, em Lamego, sagrou-se ontem vencedora do Chefe Cozinheiro do Ano 2022”, na final nacional da 33ª edição do maior concurso de cozinha profissional, que se realizou na FIL, em Lisboa”. Foi assim, através de uma notícia no próprio site do evento que que foi anunciada a vencedora do concurso, 23 anos depois da última mulher a ter conseguido tal proeza.
Ana Magalhães tem 26 anos, é formada em Gestão e Produção de cozinha na Escola de Hotelaria e Turismo de Lamego tendo passado por vários hotéis antes de, em 2019, se juntar à equipa do Hotel Six Senses Douro Valley, onde exerce, então, o cargo de chefe de partida. Segundo declarações da cozinheira ao mesmo site, esta “foi uma vitória difícil e que resultou num desafio de superação pessoal e profissional. Era um objetivo que já tinha há alguns anos e que finalmente consegui alcançar. Depois de 23 anos, é uma mulher a ganhar esta competição, mostrando que também somos muito capazes. Estou muito orgulhosa do trabalho que fiz.”
Ana Magalhães, a vencedora do CCA 2022
Esta vitória tem tanto de rara (e não devia) como de actual ao ponto de tornar anacrónico o nome do concurso. Não seria esta altura certa para alterar o nome de Chefe Cozinheiro do Ano para Chefe de Cozinha do Ano ou a mais ninguém lhe faz impressão, por exemplo, que na comunicação social tenham anunciado a vitória com o nome do prémio no masculino (a única excepção que vi foi no Público”)?
Importa lembrar que o CCA foi a primeira competição de chefes para profissionais de cozinha e dela já saíram vencedores nomes, como Fausto Airoldi (foi o primeiro a triunfar, em 1990), Henrique Sá Pessoa (2005), João Rodrigues (2007), Vítor Matos (2003), António Loureiro (2014), Rui Martins (2016) e Luís Gaspar (2017), só para dar o exemplo de nomes hoje bem conhecidos. Porém, deveria acrescentar, também, os de Adelaide Fonseca (1991), Adozinda Gonçalves (1993), Celsa Villalobos (1995) e Carla Rodrigues (1999), as únicas mulheres vencedoras até hoje e todas nos anos de 1990, uma década onde ainda houve algum equilíbrio, com 6 homens e 4 mulheres a ganharem a competição.
É verdade que Ana Magalhães não precisou de quota para ser a vencedora e aparentemente em nada foi prejudicada pelo facto do júri continuar a ser composto apenas por homens. Porém, a grande questão que se coloca é se este prémio será apenas um grão de areia no deserto ou se terá repercussão suficiente para incentivar outras profissionais a inscreverem-se nas próximas edições e, mais importante ainda, ajudar a impulsionar um movimento para que haja mais mulheres a chefiar restaurantes – nomeadamente a própria, que é ainda “apenas” chefe de partida.
A dificuldade da ascensão na carreira das mulheres na cozinha (bem retratada pela Alexandra Prado Coelho neste artigo no Público) ainda demorará o seu tempo até que se vislumbre uma mudança real. Porém, a pouco e pouco, o panorama tem vindo a melhorar. Só para dar alguns exemplos, além desta vitória, nas últimas edições deste concurso já começam a aparecer mais mulheres a disputarem as etapas regionais. Por outro lado, o próprio director das Edições do Gosto, Paulo Amado, com a sua equipa, tem vindo a puxar pelo tema e a incluir profissionais mulheres nos diversos eventos que organiza, nomeadamente no Congresso dos Cozinheiros. Este ano, também tivemos mais mulheres a obterem votos suficientes para serem nomeadas em diversas categorias, nos nossos prémios do Mesa Marcada, tendo inclusive Nádia Desidério sido eleita escançã do ano. De igual modo, recentemente, também a Amuse Bouche incluiu várias chefes de cozinha no evento que organizou em França, o Lyon Street Food Festival, as mesmas profissionais (ou quase todas) que estarão no Foodtopia, que se realiza este fim de semana, no Jardim Tropical (Belém), em Lisboa.
Estes são apenas alguns exemplos, outros e outras figuras e entidades existirão. Ah! E se não for já este ano, não deverá tardar muito para voltarmos a ter de novo uma chef mulher a ganhar uma estrela Michelin, em Portugal. Porém, para já: parabéns, Ana Magalhães!
“Ana Magalhães, chefe de partida no Six Senses Douro Valley, em Lamego, sagrou-se ontem vencedora do Chefe Cozinheiro do Ano 2022”, na final nacional da 33ª edição do maior concurso de cozinha profissional, que se realizou na FIL, em Lisboa”. Foi assim, através de uma notícia no próprio site do evento que que foi anunciada a vencedora do concurso, 23 anos depois da última mulher a ter conseguido tal proeza.
Ana Magalhães tem 26 anos, é formada em Gestão e Produção de cozinha na Escola de Hotelaria e Turismo de Lamego tendo passado por vários hotéis antes de, em 2019, se juntar à equipa do Hotel Six Senses Douro Valley, onde exerce, então, o cargo de chefe de partida. Segundo declarações da cozinheira ao mesmo site, esta “foi uma vitória difícil e que resultou num desafio de superação pessoal e profissional. Era um objetivo que já tinha há alguns anos e que finalmente consegui alcançar. Depois de 23 anos, é uma mulher a ganhar esta competição, mostrando que também somos muito capazes. Estou muito orgulhosa do trabalho que fiz.”
Esta vitória tem tanto de rara (e não devia) como de actual ao ponto de tornar anacrónico o nome do concurso. Não seria esta altura certa para alterar o nome de Chefe Cozinheiro do Ano para Chefe de Cozinha do Ano ou a mais ninguém lhe faz impressão, por exemplo, que na comunicação social tenham anunciado a vitória com o nome do prémio no masculino (a única excepção que vi foi no Público”)?
Importa lembrar que o CCA foi a primeira competição de chefes para profissionais de cozinha e dela já saíram vencedores nomes, como Fausto Airoldi (foi o primeiro a triunfar, em 1990), Henrique Sá Pessoa (2005), João Rodrigues (2007), Vítor Matos (2003), António Loureiro (2014), Rui Martins (2016) e Luís Gaspar (2017), só para dar o exemplo de nomes hoje bem conhecidos. Porém, deveria acrescentar, também, os de Adelaide Fonseca (1991), Adozinda Gonçalves (1993), Celsa Villalobos (1995) e Carla Rodrigues (1999), as únicas mulheres vencedoras até hoje e todas nos anos de 1990, uma década onde ainda houve algum equilíbrio, com 6 homens e 4 mulheres a ganharem a competição.
É verdade que Ana Magalhães não precisou de quota para ser a vencedora e aparentemente em nada foi prejudicada pelo facto do júri continuar a ser composto apenas por homens. Porém, a grande questão que se coloca é se este prémio será apenas um grão de areia no deserto ou se terá repercussão suficiente para incentivar outras profissionais a inscreverem-se nas próximas edições e, mais importante ainda, ajudar a impulsionar um movimento para que haja mais mulheres a chefiar restaurantes – nomeadamente a própria, que é ainda “apenas” chefe de partida.
A dificuldade da ascensão na carreira das mulheres na cozinha (bem retratada pela Alexandra Prado Coelho neste artigo no Público) ainda demorará o seu tempo até que se vislumbre uma mudança real. Porém, a pouco e pouco, o panorama tem vindo a melhorar. Só para dar alguns exemplos, além desta vitória, nas últimas edições deste concurso já começam a aparecer mais mulheres a disputarem as etapas regionais. Por outro lado, o próprio director das Edições do Gosto, Paulo Amado, com a sua equipa, tem vindo a puxar pelo tema e a incluir profissionais mulheres nos diversos eventos que organiza, nomeadamente no Congresso dos Cozinheiros. Este ano, também tivemos mais mulheres a obterem votos suficientes para serem nomeadas em diversas categorias, nos nossos prémios do Mesa Marcada, tendo inclusive Nádia Desidério sido eleita escançã do ano. De igual modo, recentemente, também a Amuse Bouche incluiu várias chefes de cozinha no evento que organizou em França, o Lyon Street Food Festival, as mesmas profissionais (ou quase todas) que estarão no Foodtopia, que se realiza este fim de semana, no Jardim Tropical (Belém), em Lisboa.
Estes são apenas alguns exemplos, outros e outras figuras e entidades existirão. Ah! E se não for já este ano, não deverá tardar muito para voltarmos a ter de novo uma chef mulher a ganhar uma estrela Michelin, em Portugal. Porém, para já: parabéns, Ana Magalhães!
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