Ainda não há muitos anos, numa conhecida cervejaria/marisqueira de Lisboa, os únicos vinhos que competiam à mesa com a cerveja eram os provenientes de uma única região. Vinham nas suas garrafas esguias, gelados, para serem servidos em flutes. Percebia-se o sucesso, quer entre clientes locais, quer entre estrangeiros: a frescura, a leveza, a ligeira efervescência (de alguns) e o toque frutado, faziam deles o parceiro perfeito (e sem pesar no bolso) para uma variedade de mariscos preparados das mais diversas formas.
Este modelo fez – e faz – do Vinho Verde um dos mais populares do país e um dos vinhos nacionais de maior sucesso lá fora. Porém, na última década e meia, o panorama tem vindo a mudar e, embora em grande parte, a base do sucesso da região continue ligada a estes vinhos leves e frescos, não só a qualidade aumentou como se abriu espaço para que outros desta Denominação de Origem (D.O.), mais complexos e estruturados, afirmassem as diversas expressões das castas locais e as nuances de cada uma das sub-regiões.
Ah sim, os Verdes são maduros
Porém, antes de prosseguirmos é importante começar por desmistificar alguns equívocos, começando pelo nome. Sim, é provável que já saiba que o Vinho Verde é uma região demarcada e não um estilo ou categoria e que o nome é uma alusão a tonalidade verdejante que caracteriza a região noroeste de Portugal, ou não fosse esta a de maior pluviosidade do país. Porém, acreditem, ainda há quem se surpreenda (e nos surpreenda) com um “ah é?!”, provavelmente movido pela célebre e errónea questão (felizmente cada vez menos frequente), se vamos querer um “verde ou maduro”. Acontece que as uvas do Vinho Verde, não só são colhidas no seu estado de correcta maturação, como os de qualquer outra região, como dão origem a vários tipos e estilos de vinhos. Os mais conhecidos são de facto os brancos, cujas vinhas ocupam a maior área da região. Porém, cada vez mais encontramos pelas garrafeiras e cartas de vinhos de todo o país, rosés, tintos e espumantes – já para não falar das belíssimas aguardentes vínicas.
Outro dos mitos urbanos diz respeito à sua capacidade de guarda – ou falta dela. Sim, é verdade que os tais mais leves e frescos são dos primeiros a chegar mercado e acabam por ser consumidos no próprio ano. Porém, há cada vez mais produtores a lançar vinhos com boa capacidade de envelhecimento, sobretudo, os que têm como base as castas Alvarinho e Loureiro. Aliás, cada vez há mais relatos de profissionais e enófilos surpreendidos com a frescura e riqueza de vinhos destas castas, de colheitas antigas – e alguns sem serem de gamas superiores!
As castas e a diversidade de terroirs
São quase cinco centenas as castas autorizadas para “DO” Vinho Verde. Contudo, se é provável que num futuro próximo algumas minoritárias sejam recuperadas, seguindo uma tendência actual bem como os benefícios que a biodiversidade pode trazer às vinhas, o foco está essencialmente em seis castas brancas e outras tantas tintas. Porém, com este destaque não significa que haja falta de variedade, dado que a região dos Vinhos Verdes é diversificada e versátil em estilos e perfis de vinhos.
De facto, há outras causas que entram na equação, como as opções de vinificação e, sobretudo, as questões que se prendem com o terroir. As diferenças climáticas são significativas ao longo da região e isso reflecte-se nas suas nove sub-regiões, cujos nomes provêm de rios ou cidades: Monção e Melgaço, Lima, Cávado, Ave, Basto, Sousa, Baião, Paiva e Amarante. As castas locais também variam. A primeira sub-região, mais a norte, é talvez a mais famosa devido à reputação alcançada pelos seus Alvarinhos. Aqui, as chuvas são menos frequentes e no Verão as temperaturas atingem valores muito mais elevados do que no resto da região. Neste microclima, a casta Alvarinho dá origem a vinhos mais encorpados, com aromas subtis, frescos e complexos de alperce, pêssego, citrinos e frutos tropicais (maracujá, líchia, ananás) e uma componente mineral marcada.
Descritores da casta AlvarinhoArintoAvessoAzalLoureiro
A sul de Monção e Melgaço encontram-se as sub-regiões Lima, Cávado e Ave. Nestes lugares, a principal casta é a Loureiro, ainda que que o Arinto e a Trajadura também sejam utilizadas, sobretudo em lote. Os vinhos nestas sub-regiões são normalmente frescos e aromáticos, muitas vezes com um perfume citrino e de flor. As sub-regiões montanhosas de Basto e Sousa também produzem vinhos a partir de várias castas, como o Azal e o Avesso. Já nas sub-regiões de Amarante e Baião, a casta Avesso dá origem a brancos secos e frescos com aromas ricos e um caráter mineral. Amarante e Paiva, esta última a sul do rio Douro, são muito reconhecidas pelos seus vinhos tintos.
Até não há muito tempo, estes últimos, de carácter mais rústico e acidez viva, eram consumidos e apreciados sobretudo na região e quase sempre associados à gastronomia local, nomeadamente à lampreia. Porém, nos últimos tempos, alguns produtores começaram a dar-lhes uma maior atenção, sobretudo aos da casta Vinhão, conseguindo, aqui e ali, um certo culto à sua volta, aproveitando a onda por tintos diferenciados, mais leves e frescos. O mesmo se poderia dizer dos espumantes, se bem que neste caso nunca foi uma questão de gosto, mas sim de escassez, porque sempre foram muito apreciados em todo o país.
Harmonizações com Vinho Verde
Em termos de harmonização de comida com Vinhos Verdes, também aqui a sua diversidade e aptidão gastronómica facilitam a tarefa a qualquer um. Claro, um Alvarinho ou um Loureiro mais leve e jovem combina sempre bem com peixes e mariscos delicados preparados na grelha ou de outra forma simples.
Todavia, parece-nos muito interessante, para quem gosta de ir além do evidente, explorar ligações aparentemente menos óbvias. Por exemplo, estamos em época de tomate. Porque não um simples carpaccio deste fruto, bem maduro, apenas temperado com um fio de azeite, um toque de vinagre, flor de sal e umas folhas de manjericão ou de orégãos, harmonizado com um branco ou um espumante das castas Azal, Arinto ou Loureiro? As características ácido-doce com um toque de umami do tomate associada à erva aromática vão muito bem com a acidez pronunciada e o toque floral destes vinhos.
Já um Alvarinho ou um Loureiro mais encorpado e intenso, com algum tempo de estágio ou mesmo de curtimenta, pode ser uma óptima solução para um prato contemporâneo de peixe, como um pregado ou um tamboril, com um molho beurre blanc, por exemplo. Já para ostras, ao natural ou com um toque criativo, um rosé ou um espumante bruto funcionam sempre muito bem. O mesmo diríamos para pratos asiáticos, ou mexicanos, onde o picante (em ambos) e o molho de soja (no caso do segundo) causam sempre algum sarilho. Ainda nos asiáticos, na cozinha japonesa e em especial no sushi, os espumantes brutos brancos são entre as bebidas ocidentais aqueles que melhor se conjugam. Porém, um Vinho Verde de lote com boa acidez e estrutura (dado pela casta Avesso, por exemplo) pode conferir uma outra personalidade a um peixe mais subtil, como o pargo, em cima de um arroz suavemente avinagrado, apenas pincelado com um toque de shoyu e uma micro porção wasabi fresco ralado no momento.
Nos dias de hoje, na tal conhecida cervejaria/marisqueira de Lisboa, os vinhos que continuam verdadeiramente a competir à mesa com a cerveja são os Verdes. Porém, o panorama mudou. Já é frequente virem à temperatura certa (em torno dos 8º/10º C) e não gelados – e assim evita-se que percam aromas – e são servidos em copos apropriados, tal como qualquer bom vinho branco. Por outro lado, não são apenas os Verdes leves e frescos que dominam. Também veem-se, cada vez mais, espumantes da região, alguns rosés, bem como outros brancos mais estruturados e complexos, neste caso, para certos mariscos mais gordos e intensos, como a lagosta, o seu primo lavagante, umas ameijoas “da boa” à Bolhão Pato ou umas zamburinhas (vieiras).
A Região dos Vinhos Verdes e o consórcio Vini Veronesi
Não é de hoje que os Vinho Verdes estão entre os vinhos portugueses mais exportados. Porém, para acrescentar uma maior componente de valor ao volume já vendido lá fora, a Região dos Vinhos Verdes associou-se ao consórcio Vini Veronesi, que representa as áreas vinícolas de Verona (Arcole, Bardolino Chiaretto, Custoza, Garda, Lessini Durello, Lugana e Soave), no Nort de Itália, para a promoção dos vinhos de ambas as regiões em mercados internacionais, como a Alemanha, França e Dinamarca.
Ainda não há muitos anos, numa conhecida cervejaria/marisqueira de Lisboa, os únicos vinhos que competiam à mesa com a cerveja eram os provenientes de uma única região. Vinham nas suas garrafas esguias, gelados, para serem servidos em flutes. Percebia-se o sucesso, quer entre clientes locais, quer entre estrangeiros: a frescura, a leveza, a ligeira efervescência (de alguns) e o toque frutado, faziam deles o parceiro perfeito (e sem pesar no bolso) para uma variedade de mariscos preparados das mais diversas formas.
Este modelo fez – e faz – do Vinho Verde um dos mais populares do país e um dos vinhos nacionais de maior sucesso lá fora. Porém, na última década e meia, o panorama tem vindo a mudar e, embora em grande parte, a base do sucesso da região continue ligada a estes vinhos leves e frescos, não só a qualidade aumentou como se abriu espaço para que outros desta Denominação de Origem (D.O.), mais complexos e estruturados, afirmassem as diversas expressões das castas locais e as nuances de cada uma das sub-regiões.
Ah sim, os Verdes são maduros
Porém, antes de prosseguirmos é importante começar por desmistificar alguns equívocos, começando pelo nome. Sim, é provável que já saiba que o Vinho Verde é uma região demarcada e não um estilo ou categoria e que o nome é uma alusão a tonalidade verdejante que caracteriza a região noroeste de Portugal, ou não fosse esta a de maior pluviosidade do país. Porém, acreditem, ainda há quem se surpreenda (e nos surpreenda) com um “ah é?!”, provavelmente movido pela célebre e errónea questão (felizmente cada vez menos frequente), se vamos querer um “verde ou maduro”. Acontece que as uvas do Vinho Verde, não só são colhidas no seu estado de correcta maturação, como os de qualquer outra região, como dão origem a vários tipos e estilos de vinhos. Os mais conhecidos são de facto os brancos, cujas vinhas ocupam a maior área da região. Porém, cada vez mais encontramos pelas garrafeiras e cartas de vinhos de todo o país, rosés, tintos e espumantes – já para não falar das belíssimas aguardentes vínicas.
Outro dos mitos urbanos diz respeito à sua capacidade de guarda – ou falta dela. Sim, é verdade que os tais mais leves e frescos são dos primeiros a chegar mercado e acabam por ser consumidos no próprio ano. Porém, há cada vez mais produtores a lançar vinhos com boa capacidade de envelhecimento, sobretudo, os que têm como base as castas Alvarinho e Loureiro. Aliás, cada vez há mais relatos de profissionais e enófilos surpreendidos com a frescura e riqueza de vinhos destas castas, de colheitas antigas – e alguns sem serem de gamas superiores!
As castas e a diversidade de terroirs
São quase cinco centenas as castas autorizadas para “DO” Vinho Verde. Contudo, se é provável que num futuro próximo algumas minoritárias sejam recuperadas, seguindo uma tendência actual bem como os benefícios que a biodiversidade pode trazer às vinhas, o foco está essencialmente em seis castas brancas e outras tantas tintas. Porém, com este destaque não significa que haja falta de variedade, dado que a região dos Vinhos Verdes é diversificada e versátil em estilos e perfis de vinhos.
De facto, há outras causas que entram na equação, como as opções de vinificação e, sobretudo, as questões que se prendem com o terroir. As diferenças climáticas são significativas ao longo da região e isso reflecte-se nas suas nove sub-regiões, cujos nomes provêm de rios ou cidades: Monção e Melgaço, Lima, Cávado, Ave, Basto, Sousa, Baião, Paiva e Amarante. As castas locais também variam. A primeira sub-região, mais a norte, é talvez a mais famosa devido à reputação alcançada pelos seus Alvarinhos. Aqui, as chuvas são menos frequentes e no Verão as temperaturas atingem valores muito mais elevados do que no resto da região. Neste microclima, a casta Alvarinho dá origem a vinhos mais encorpados, com aromas subtis, frescos e complexos de alperce, pêssego, citrinos e frutos tropicais (maracujá, líchia, ananás) e uma componente mineral marcada.
A sul de Monção e Melgaço encontram-se as sub-regiões Lima, Cávado e Ave. Nestes lugares, a principal casta é a Loureiro, ainda que que o Arinto e a Trajadura também sejam utilizadas, sobretudo em lote. Os vinhos nestas sub-regiões são normalmente frescos e aromáticos, muitas vezes com um perfume citrino e de flor. As sub-regiões montanhosas de Basto e Sousa também produzem vinhos a partir de várias castas, como o Azal e o Avesso. Já nas sub-regiões de Amarante e Baião, a casta Avesso dá origem a brancos secos e frescos com aromas ricos e um caráter mineral. Amarante e Paiva, esta última a sul do rio Douro, são muito reconhecidas pelos seus vinhos tintos.
Até não há muito tempo, estes últimos, de carácter mais rústico e acidez viva, eram consumidos e apreciados sobretudo na região e quase sempre associados à gastronomia local, nomeadamente à lampreia. Porém, nos últimos tempos, alguns produtores começaram a dar-lhes uma maior atenção, sobretudo aos da casta Vinhão, conseguindo, aqui e ali, um certo culto à sua volta, aproveitando a onda por tintos diferenciados, mais leves e frescos. O mesmo se poderia dizer dos espumantes, se bem que neste caso nunca foi uma questão de gosto, mas sim de escassez, porque sempre foram muito apreciados em todo o país.
Harmonizações com Vinho Verde
Em termos de harmonização de comida com Vinhos Verdes, também aqui a sua diversidade e aptidão gastronómica facilitam a tarefa a qualquer um. Claro, um Alvarinho ou um Loureiro mais leve e jovem combina sempre bem com peixes e mariscos delicados preparados na grelha ou de outra forma simples.
Todavia, parece-nos muito interessante, para quem gosta de ir além do evidente, explorar ligações aparentemente menos óbvias. Por exemplo, estamos em época de tomate. Porque não um simples carpaccio deste fruto, bem maduro, apenas temperado com um fio de azeite, um toque de vinagre, flor de sal e umas folhas de manjericão ou de orégãos, harmonizado com um branco ou um espumante das castas Azal, Arinto ou Loureiro? As características ácido-doce com um toque de umami do tomate associada à erva aromática vão muito bem com a acidez pronunciada e o toque floral destes vinhos.
Já um Alvarinho ou um Loureiro mais encorpado e intenso, com algum tempo de estágio ou mesmo de curtimenta, pode ser uma óptima solução para um prato contemporâneo de peixe, como um pregado ou um tamboril, com um molho beurre blanc, por exemplo. Já para ostras, ao natural ou com um toque criativo, um rosé ou um espumante bruto funcionam sempre muito bem. O mesmo diríamos para pratos asiáticos, ou mexicanos, onde o picante (em ambos) e o molho de soja (no caso do segundo) causam sempre algum sarilho. Ainda nos asiáticos, na cozinha japonesa e em especial no sushi, os espumantes brutos brancos são entre as bebidas ocidentais aqueles que melhor se conjugam. Porém, um Vinho Verde de lote com boa acidez e estrutura (dado pela casta Avesso, por exemplo) pode conferir uma outra personalidade a um peixe mais subtil, como o pargo, em cima de um arroz suavemente avinagrado, apenas pincelado com um toque de shoyu e uma micro porção wasabi fresco ralado no momento.
Nos dias de hoje, na tal conhecida cervejaria/marisqueira de Lisboa, os vinhos que continuam verdadeiramente a competir à mesa com a cerveja são os Verdes. Porém, o panorama mudou. Já é frequente virem à temperatura certa (em torno dos 8º/10º C) e não gelados – e assim evita-se que percam aromas – e são servidos em copos apropriados, tal como qualquer bom vinho branco. Por outro lado, não são apenas os Verdes leves e frescos que dominam. Também veem-se, cada vez mais, espumantes da região, alguns rosés, bem como outros brancos mais estruturados e complexos, neste caso, para certos mariscos mais gordos e intensos, como a lagosta, o seu primo lavagante, umas ameijoas “da boa” à Bolhão Pato ou umas zamburinhas (vieiras).
A Região dos Vinhos Verdes e o consórcio Vini Veronesi
Não é de hoje que os Vinho Verdes estão entre os vinhos portugueses mais exportados. Porém, para acrescentar uma maior componente de valor ao volume já vendido lá fora, a Região dos Vinhos Verdes associou-se ao consórcio Vini Veronesi, que representa as áreas vinícolas de Verona (Arcole, Bardolino Chiaretto, Custoza, Garda, Lessini Durello, Lugana e Soave), no Nort de Itália, para a promoção dos vinhos de ambas as regiões em mercados internacionais, como a Alemanha, França e Dinamarca.
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