Uma das grandes verdades da minha vida gastronómica é que não como suficiente leitão à Bairrada. Tal como milhões de portugueses, desde criança que frequento aqueles sagrados restaurantes de beira de estrada da zona da Mealhada, sempre prontos a receber-nos a qualquer hora do dia, mas o facto é que se passam anos sem lá parar. E sempre que paro fico a perguntar-me porque levei tanto tempo a voltar. Achei, portanto, numa viagem recente, que não podia perder a oportunidade de ir almoçar, às 16h30, ao Mugasa, casa que não conhecia, mas de que tinha ouvido falar muito bem nos últimos anos. Foi inclusive um dos nomeados do painel de jurados do Prémio Especial Estrella Damm Destaque do Ano 2022 do Mesa Marcada.
Também desde criança que acho divertidas as conversas sobre qual é “O Melhor” entre os vários restaurantes da região. Nesses tempos longínquos, pré-autoestrada, o preferido da minha família era o Pedro dos Leitões, embora volta e meia se abrisse uma excepção por qualquer razão, ou porque não havia lugar ou porque alguém nos tinha garantido que havia outro que tínhamos que experimentar. Depois de ter vivido uns tempos fora na minha adolescência, quando regressei a Portugal, devo ainda ao Pedro dos Leitões o meu reencontro com este prato de que tanto gosto.
Desde então, tenho ouvido muitos especialistas que vão garantido que este e aquele é não só “O Melhor”, como muitos dos mais conhecidos estão a aldrabar na receita ou na qualidade dos produtos ou no forno que utilizam ou no tipo de lenha ou em qualquer outra coisa, que vivem só da fama, etc etc. Não me interessam nada as considerações negativas dos milhões de “especialistas” em leitão à Bairrada que há entre nós, mas vou tentando acompanhar as considerações positivas, que vão fazendo sobressair alguns nomes.
Aqui há uns anos, “O Melhor” era o Vidal, onde cheguei a ir um par de vezes para confirmar a excelência do que serviam. Porém, nos últimos tempos, por não ter ouvido falar dele, pensei até que tinha ocorrido alguma incidência que o tivesse afectado, mas disseram-me agora que não, que continua a trabalhar no alto nível do costume, informação que muito me agradou. Depois, o primeiro lugar no pódio coube ao Rei dos Leitões, onde ainda não fui, mas cuja magnificência pude aquilatar numa entrega em casa que eles tiveram a bondade de me fazer chegar durante a clausura pandémica e de que aqui dei conta.
Agora foi a vez de experimentar o Mugasa, situado em Fogueira (Sangalhos), a poucos quilómetros da Mealhada, onde me sentei numa sala bem posta (apesar da televisão, mas enfim), com mesas largas e confortáveis, que àquela hora, num dia de semana, estava sem ninguém, mas que, ao longo do meu almoço muito tardio, ainda receberia mais cinco ou seis clientes. Devo já dizer que, apesar do horário, fui muitíssimo bem recebido e atendido, com simpatia e competência. No entanto, o almoço começou com uma certa desilusão porque para a mesa não veio o típico pão da Bairrada de quatro bicos, acompanhado com queijo fresco, que me habituei a ver nos restaurantes da região. Havia, é certo, uma boa broa de milho e óptimas azeitonas, mas os outros dois tipos de pão eram de mais fraca qualidade e ainda um queijo semi-curado que não provei.

Todas as reticências se desvaneceram com a chegada de dose e meia de leitão (éramos dois à mesa), perfeito na sua pele vidrada, na suculência da carne, sem mácula de secura, no tempero moderado, deixando ao critério do comensal servir-se a seu gosto da molheira para acrescentar sabor. Foi o que fiz, talvez exagerando por vezes na dose, mas o meu entusiasmo com este fantástico molho assim o ditou. As batatas fritas de modo igualmente perfeito, secas de óleo, estaladiças, uma salada de alface sem exageros de vinagre, apenas com o “defeito” (que se corrige de imediato, basta deixá-la na travessa) de trazer demasiada cebola. Uma palavra de elogio para a laranja, de grande qualidade, pormenor tantas vezes descurado, mas essencial para o equilíbrio do conjunto. Por fim, um morgado do Bussaco, bolo de frutos secos, com predominância de noz, pelo que me pareceu, com recheio de doce de ovos, agradável e fresco. Com a prudência que a estrada impõe, pedi apenas meia garrafa de um espumante das Caves de São João, que me soube lindamente. Com água, uma cerveja sem álcool e cafés, ficou tudo por 67 euros.
O empregado do Mugasa aconselha que se reserve sempre que possível, também para garantir à chegada o leitão acabado de assar. A casa parece estar a viver um bom período, apesar dos recentes tempos difíceis da pandemia, preparando-se para abrir uma esplanada e reservando o andar térreo apenas para propostas mais informais. Ou seja, deve ficar ainda melhor. Por mim, espero que continuem as acaloradas e divertidas discussões sobre onde encontrar “O Melhor” leitão à Bairrada, que os especialistas continuem a defender os seus “segredos bem guardados”, que continue esta saudável competição de que simples apreciadores como eu tanto beneficiam. Continuarei também a acompanhar, mas tenho é que ir lá mais vezes, isso é certo.

Mugasa
Morada: Largo da Feira, Fogueira, Sangalhos
Tel: 234 741 061
Horários: Aberto ao almoço e jantar, com interrupção entre as 17h30 e as 19h. Fecha à terça-feira.
E-mail: restaurantemugasa@gmail.com
Web: https://www.facebook.com/pg/restaurante.mugasa
Nota: fotografia de abertura de Cristina Gomes. Restantes fotos do http://www.rotadabairrada.pt
Fui agora com 3 pessoas almoçar só posso DAR NOTA Máxima espero voltar assim que puder muito bom
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